A astrologia como espelho da psique
- Danielle Cassimiro
- 13 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de mai.

Desde a Antiguidade, a astrologia foi concebida não apenas como arte divinatória, mas como uma linguagem simbólica do cosmos — um espelho da alma. Os antigos viam o céu como um livro sagrado, e os planetas como deuses em movimento. “O que está em cima é como o que está embaixo”, dizia a tábua de Esmeralda atribuída a Hermes Trismegisto, o grande iniciador da tradição hermética que influenciou toda a filosofia ocidental.
Esse princípio da correspondência, central no pensamento alquímico e astrológico, é o mesmo que Jung resgata ao afirmar:
"A astrologia representa a soma de todo o conhecimento psicológico da Antiguidade."(C.G. Jung, “Cartas”, Volume II)
Jung compreendia que a astrologia carrega uma sabedoria milenar condensada em símbolos. Para ele, os planetas não causavam os acontecimentos ou emoções humanas — eles os refletiam. Assim como os sonhos emergem da alma para expressar conteúdos inconscientes, os símbolos astrológicos espelham padrões arquetípicos da psique.
Os Arquétipos Celestes e a Jornada da Alma
Cada planeta e cada signo do zodíaco encarnam arquétipos fundamentais. Marte representa a força ativa e agressiva; Vênus, o princípio do amor e da união; Saturno, o tempo e o limite; Júpiter, a expansão e o sentido. Esses deuses planetários não vivem apenas no céu, mas em nós. Eles são personagens da dramaturgia da alma.
Jung, em Memórias, Sonhos e Reflexões, descreve sua relação com o simbolismo astrológico como uma espécie de oráculo da psique:
"Sempre me interessei por astrologia como uma espécie de projeção da alma sobre o céu estrelado."(C.G. Jung, Memórias, Sonhos, Reflexões)
Essa “projeção da alma sobre o céu” revela que não estamos separados do universo, mas em diálogo constante com ele. Ao nascermos, o céu nos imprime um mapa — o mapa natal — que, se interpretado com profundidade, revela padrões psíquicos fundamentais: predisposições emocionais, formas de amar, lutar, criar, adoecer e curar.
O Retorno à Essência: Corpo, Alma e Espírito
A astrologia terapêutica parte da ideia de que o sofrimento psíquico não é um erro, mas um chamado ao realinhamento entre os planos físico, emocional e espiritual. A dor, nesse contexto, é símbolo: ela aponta onde a alma perdeu sua rota, onde o Self foi silenciado.
Voltar-se à astrologia com esse olhar simbólico é como abrir um espelho da alma. E quando feita em contexto terapêutico — no setting analítico — permite nominar o indizível, revelar imagens do inconsciente que pedem passagem, e dar sentido aos ciclos de crise e transformação.
Na tradição cristã, encontramos esse mesmo princípio de alinhamento simbólico no episódio da estrela de Belém. Os magos do oriente, astrólogos da antiguidade, reconhecem o nascimento de um novo arquétipo no mundo — o Cristo — através do sinal nos céus:
“Tendo nascido Jesus em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que magos vindos do oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: ‘Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Pois vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.’”(Mateus 2:1-2)
Esse trecho não apenas valida a astrologia como prática ancestral, mas mostra que o nascimento do Cristo já estava inscrito no céu. Ele vem como luz, como verbo encarnado, como cura. O símbolo da estrela nos recorda que toda grande transformação da alma é precedida por um sinal simbólico que nos guia.
Do Diagnóstico à Imagem: A Astrologia como Método Clínico
Enquanto a medicina moderna fragmenta o sujeito entre diagnósticos e classificações, a astrologia terapêutica propõe uma visão imagética e simbólica do adoecer. Aqui, não se trata de rotular o indivíduo, mas de escutar o mito que ele vive.
Neste sentido, a carta natal se torna como um sonho aberto: um mandala simbólico que, à luz da psicologia analítica, oferece pistas sobre a constituição do eu e os desafios do processo de individuação. O analista, nesse contexto, atua como um tradutor: alguém que compreende os símbolos, os aspectos planetários, os trânsitos — não como previsões, mas como imagens vivas da alma em sua trajetória de cura.
Por Danielle Cassimiro, 13/04/2025
Psicanalista Integrativa de base junguiana | Psicoterapia online
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