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Por que a fé é importante na jornada para a individuação.


Por Danielle Cassimiro – Psicanalista Integrativa


Um reencontro pela via da sincronicidade


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Houve um tempo em que minha fé parecia adormecida. Eu seguia o caminho do autoconhecimento com disciplina, mergulhada nos estudos da alma, mas algo em mim permanecia árido. Era como se o sagrado houvesse se silenciado dentro de mim.


Foi então que Santa Teresinha do Menino Jesus atravessou meu caminho de forma tão inesperada que só poderia ser compreendida pela linguagem da sincronicidade. Ela surgiu no exato momento em que eu precisava de um reencontro com o divino, não o Deus das imposições, mas o Deus do amor íntimo, pessoal e cotidiano.


Aquele que se revela nos gestos simples, nas flores pequenas, nas coincidências significativas.

E foi nesse reencontro que percebi: sem fé, a individuação se torna uma busca árida e autocentrada.


A dimensão simbólica da fé


Carl Gustav Jung dizia que “a experiência religiosa é a mais primitiva e completa expressão da alma humana” (CW 11, §9).

A fé, sob essa ótica, não é dogma, mas um movimento interior de confiança, uma entrega àquilo que é maior do que o ego.

James Hillman também reforçava que o “espírito” não está fora de nós, mas permeia o próprio ato de viver com profundidade e imaginação. Quando o ser humano se desconecta dessa dimensão simbólica e transcendente, perde a bússola que orienta seu sentido de existir.


Marie-Louise von Franz lembrava que “sem uma atitude religiosa, o inconsciente se torna uma força caótica e destrutiva”, apontando que a fé é o eixo que organiza o mundo interior.

Bert Hellinger, de modo simples e fenomenológico, observava que quando nos colocamos em sintonia com algo maior — seja Deus, o destino ou a ordem da vida — nossa alma se pacifica, porque reconhece que não está sozinha.


“Entre todos os meus pacientes de meia-idade, não houve um cuja dificuldade última não fosse a de encontrar uma visão religiosa da vida.”

— C. G. Jung, CW 11, §509


Quando o ego tenta ocupar o lugar de Deus

A ausência de fé cria um vazio existencial que nenhuma técnica psicológica é capaz de preencher.

Quando a alma perde o vínculo com o mistério, a vida se reduz à superfície do eu — e o ego, inflado pela ilusão de autossuficiência, tenta ocupar o lugar de Deus.


A consequência é a fragmentação: a pessoa se perde em sintomas, em crises, em buscas incessantes de controle.

A fé, por outro lado, restitui o eixo. Ela nos lembra que há algo em nós que sabe, mesmo quando tudo parece incerto.


É o gesto de dizer:


“ Sim, eu confio.”

Mesmo que o caminho esteja escuro.


A fé como caminho de integração


O reencontro com a fé é parte essencial do processo de individuação.

É o retorno à dimensão simbólica da vida: aquela onde o sofrimento ganha sentido e o inconsciente se revela como um campo sagrado.


A análise pode ser o espaço em que esse diálogo entre alma e mistério volta a acontecer.

Quando o analisando se permite olhar para o invisível e reconhecer que há forças maiores em sua história, começa o verdadeiro processo de integração.

E assim, passo a passo, a fé deixa de ser uma crença externa para se tornar uma experiência viva da alma que confia, se entrega e floresce,

como as rosas de Santa Teresinha, que sempre caem no momento certo.


Para refletir

“Aquele que olha para fora, sonha. Aquele que olha para dentro, desperta.”

— C. G. Jung


Caminho de volta para si


Se você sente que sua jornada interior perdeu o brilho, talvez seja o momento de reabrir o diálogo com o sagrado. A análise pode ser o espaço onde a alma volta a encontrar sua linguagem espiritual, sem culpas, sem dogmas, apenas com verdade e confiança.


🌹 Que cada um encontre, na fé e na análise, o caminho de volta para si mesmo.



Por Danielle Cassimiro

Psicanalista Integrativa

Mineiros GO 25/10/2025


 
 
 

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