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Amar é deixar o outro existir!

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Uma sentença simples que poderia estar escrita à mão em algum diário existencialista, entre um devaneio sobre a morte e uma xícara de café frio. Mas também é uma frase que carrega uma verdade tão potente quanto esquecida: o amor não começa na fusão, mas na separação. E não na separação que nos rompe, mas naquela que nos revela.

Na perspectiva da Psicologia Analítica, amar é um processo que só pode acontecer depois que olhamos para o espelho quebrado do inconsciente e recolhemos os cacos daquilo que projetamos nos outros.

Jung afirmava que “a tarefa mais difícil é não se identificar com a persona, nem se perder nas projeções da sombra”.

Ou seja, para deixar o outro existir, precisamos primeiro desatar o nó daquilo que colocamos sobre ele: nossas idealizações, nossos traumas não processados, nossas feridas enfeitadas de expectativa.

Marie-Louise von Franz, com sua precisão simbólica, dizia que amar verdadeiramente é suportar o fato de que o outro é um mistério autônomo, com caminhos psíquicos próprios. E veja bem: isso dá trabalho.

Dá trabalho porque a sombra adora brincar de cupido, fazendo a gente acreditar que o outro nos pertence, ou pior, que ele existe para nos completar — como se o amor fosse uma operação de fusão societária entre almas carentes.

Mas talvez Kierkegaard já estivesse rindo disso tudo lá do alto, encostado em alguma nuvem da angústia: para ele, amar é um ato de liberdade radical. “O eu é uma relação que se refere a si mesma”, dizia o dinamarquês. E sem essa autorreferência, sem esse mergulho na própria subjetividade, o amor vira dependência — e não amor. Porque quem ama com medo de perder, na verdade, está tentando possuir. E o amor que tenta possuir já está de luto antes mesmo do adeus.

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Heidegger, sempre existencial e dramático, nos lembraria que o verdadeiro encontro só ocorre quando o ser se desvela no tempo. E isso requer abertura para o outro enquanto outro, sem desejar moldá-lo à imagem e semelhança da nossa neurose bem-penteada. Quando o Dasein se encontra com outro Dasein, ou há espaço entre eles ou há prisão. Amar é permitir o espaço.

E por que tudo isso é tão difícil? Porque conhecer a si mesmo é uma tarefa inconveniente. O autoconhecimento cobra caro: ele arranca nossas máscaras, esfrega nossa sombra na cara e depois ainda pergunta: “e agora, você vai continuar culpando o outro por aquilo que não sabe sobre si?” Só depois desse processo é que podemos olhar para o outro sem querer que ele seja o curativo da nossa ferida narcísica.

Desapegar é permitir que o outro exista mesmo quando não nos agrada, mesmo quando vai embora, mesmo quando não nos escolhe. Desapegar é amar sem a necessidade neurótica de controle. É confiar que, se houver encontro, ele será verdadeiro — e não manipulado por jogos psíquicos silenciosos.


Se você chegou até aqui, talvez esteja se perguntando: ok, e como é que a gente faz tudo isso sem enlouquecer? A resposta começa com um olhar para dentro. A análise é esse lugar em que você aprende, com muito acolhimento, a reconhecer o que é seu — e deixar o que é do outro com o outro. É um processo de individuação, como dizia Jung, e também de libertação existencial, como sugeria Kierkegaard. E, no meio disso tudo, você redescobre o amor: aquele que começa com a permissão para existir — você, e o outro.

Se você sente que é hora de começar esse caminho de autoconhecimento profundo, simbólico e transformador, te convido a iniciar a análise comigo. Como Psicanalista Integrativa, meu trabalho une os saberes da psicologia analítica, da espiritualidade simbólica e das dores reais da vida concreta. Vamos juntas encontrar o fio da sua história.


Danielle Cassimiro | Psicanalista Integrativa

03 de maio de 2025


 
 
 

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