Quando a Alma Silencia: A Depressão como Chamado da Psique
- Danielle Cassimiro
- 30 de abr.
- 3 min de leitura

Vivemos numa época onde o silêncio da alma é rotulado, medicado e rapidamente sufocado — como se fosse um erro, uma falha no sistema. Mas o que chamamos de depressão pode, sob o olhar simbólico, ser um apelo profundo da psique por transformação.
A depressão não começa gritando. Ela começa se retirando.
Vai aos poucos esvaziando os sabores, os sentidos, as vontades.
O corpo pesa, o tempo arrasta, os dias perdem o contorno.
O que antes tocava, agora não toca mais.
E essa ausência de desejo é o primeiro eco de um sintoma que não quer ser apenas calado — quer ser compreendido.
Sigmund Freud, em seu texto Luto e Melancolia, escreveu que, diferentemente do luto comum, a melancolia retira do sujeito não só o objeto amado, mas também partes do próprio ego. Há uma perda internalizada, difusa, que não se pode nomear com facilidade. Jung, por sua vez, enxergou a depressão como uma “noite escura da alma”, um mergulho no inconsciente onde forças arquetípicas estão em conflito e a consciência perde momentaneamente o rumo.
A Sombra, o Self e o Chamado ao Centro
Na psicologia analítica, a depressão é frequentemente um sinal de que a psique está tentando reequilibrar uma unilateralidade da consciência. Quando vivemos presos a uma única função da personalidade — como a racionalização constante, o ativismo compulsivo, ou o idealismo desconectado da realidade — outras partes do nosso ser vão definhando.
Schopenhauer dizia que a dor é parte inerente à vida, e que o sofrimento surge da resistência ao que é. A depressão, nesse sentido, não seria apenas uma doença, mas um conflito existencial entre o que a alma quer e o que a consciência insiste em manter.
O arquétipo por trás da depressão costuma ser o do Velho Sábio — mas em sua forma sombria. Não aquele que aconselha com sabedoria, mas o que se retira, cala e faz com que a vida perca o brilho, para que algo mais profundo possa ser escutado. Há também uma passagem pela Grande Mãe Negra, que envolve, acolhe, mas também devora. É o feminino arquetípico que conduz ao útero escuro da transformação.
“A depressão é como uma senhora vestida de preto. Se ela aparecer, não a mande embora. Convide-a para entrar, ofereça-lhe um lugar à mesa e ouça o que ela tem a dizer.” Carl G. Jung

O chamado à individuação
O chamado à individuação
Por mais paradoxal que pareça, a depressão pode ser o início de um processo de renascimento psíquico.
Jung nos lembra: “A depressão é como uma mulher de preto. Se ela aparecer, não a expulse. Convide-a para entrar, ofereça-lhe um lugar, escute o que ela tem a dizer.”
Essa escuta simbólica não é feita apenas com remédios ou respostas rápidas, mas com presença, análise e acolhimento das partes rejeitadas da alma. A depressão é a recusa da psique em continuar no modo automático. É o convite — doloroso, mas real — para o surgimento de uma nova função da personalidade: o sentir, o intuir, o refletir ou o agir de outra forma.
A esperança que nasce do abismo
A boa notícia é que essa travessia, embora escura, tem um sentido. A psique não adoece por acaso.
Ela pede pausa. Ela exige mudança.
E, acima de tudo, ela aponta para o que precisa nascer.
A análise não é um remédio mágico, mas é um espaço de verdade.
Ali, você pode escutar o que foi calado, entender o que dói e dar nome ao que parecia apenas tristeza.
A depressão, quando compreendida, não paralisa — transforma.
Se você sente que sua alma tem tentado falar, silenciosamente, há algum tempo…
Talvez esse seja o momento de ouvi-la com profundidade.
Entre em contato. A análise pode ser o começo do seu reencontro com a vida.
Por Danielle Cassimiro 30/04/2025
Psicanalista Integrativa de base junguiana | Psicoterapia online
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