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A Travessia Solitária do Cordeiro: Quando a Dor Torna‑se Evolução

Atualizado: 1 de mai.




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Sendo hoje a Sexta‑Feira Santa, dia em que se deu a Paixão de Cristo no calendário litúrgico, venho aqui refletir com vocês sobre o propósito da dor em nossas vidas.

“Na cruz, a virtude da paciência se consuma” — assevera Santo Tomás de Aquino — e é precisamente nesse cenário de abandono e silêncio que Jesus nos ensina a não fugir de nosso próprio madeiro. Desde o clamor angustiado de Pedro até o “Eli, Eli, lema sabachthani?”, o Cristo nos conduz pelo arquétipo do Mártir‑Inocente, desvelando‑nos o mistério de que sofrer não é fracassar, mas atravessar.

Santo Agostinho, contemplando a inquietude do ser, confessa:

“Inquietum cor nostrum donec requiescat in te.” (Nosso coração está inquieto até que descanse em você.)

Nada perturba mais a alma do que a experiência de sofrer sozinha. E, contudo, é nessa solidão que emerge o Si‑mesmo junguiano, aquele centro indiviso cuja voz só ouvimos no silêncio da dor. Santa Teresinha do Menino Jesus, enclausurada em sua cela carmelitana, fez de cada “saudade de Deus” um sacrifício perfumado, revelando‑nos o arquétipo do Santo‑Infante, que transforma o mínimo sofrimento em oferta de amor. São Francisco de Assis, por sua vez, personificou o Filho do Pobre, encontrando na pobreza extrema e no contato com leprosos a própria face do Cristo sofredor, um sacramento vivo de compaixão.

Em nossa jornada de individuação, é preciso honrar o tríptico arquetípico – Sombra, Ánima/Ánimus e Self – para que o Eu transcenda a mera máscara social e se funda no Self, esse núcleo luminoso da psique. Como Jung nos lembra:

“Quem olha para dentro, desperta.”

A travessia interior, assim, torna‑se ponte entre o humano e o divino, e é na dor que descobrimos o chamado mais profundo da alma.

A dor, quando abraçada como mestra, converte‑se em veículo de evolução espiritual e humana. Jesus foi ato e palavra dessa verdade; Santo Agostinho e Santo Tomás a formularam; Jung a traduziu para a linguagem da alma. Santa Teresinha e São Francisco testemunharam, com suas vidas, o poder transformador do sofrer ofertado. Ao percorrermos nosso Gólgota pessoal, permaneçamos firmes e confiantes: atrás da cruz, floresce sempre a ressurreição do Self — a vida nova que nasce do propósito e do amor que sustenta.



Por Danielle Cassimiro

Psicanalista Integrativa de base junguiana | Psicoterapia online

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19 de abril de 2025


 
 
 

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