TDAH em Adultos: Quando o Mundo Exige Foco e Você Só Quer Respirar
- Danielle Cassimiro
- 13 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de mai.

Muita gente ainda associa o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) apenas a crianças agitadas que não param quietas. Mas e quando esse mesmo cérebro cresce? Quando a criança vira um adulto que vive exausto tentando dar conta da vida, mas se sente sempre atrasado em tudo?
O TDAH na vida adulta é real, e mais comum do que se imagina. Estudos indicam que cerca de 4,4% da população adulta vive com o transtorno, muitas vezes sem diagnóstico ou acolhimento adequado (Kessler et al., 2006).
Como o TDAH se manifesta nos adultos?
Ao contrário da imagem clássica de uma criança hiperativa, o adulto com TDAH costuma apresentar sintomas mais internalizados: desorganização crônica, procrastinação, dificuldade de foco e impulsividade emocional. É um cansaço que não passa. Uma mente que salta de pensamento em pensamento, mesmo quando o corpo está parado.
Russell Barkley, um dos maiores estudiosos do TDAH, afirma que “o principal déficit do TDAH é na autorregulação do comportamento, o que envolve memória de trabalho, controle emocional, e planejamento de longo prazo” (Barkley, 1997). Ou seja, não é falta de força de vontade — é neurobiologia.
A desorganização que ninguém vê
Na vida adulta, o TDAH não grita, mas desgasta. Ele se esconde nos atrasos recorrentes, nas reuniões em que a mente já saiu da sala, na dificuldade de terminar um projeto que começou com empolgação. É quando você esquece de pagar contas, perde objetos com frequência ou acumula tarefas até que tudo se torne urgente.
Você até quer fazer. Mas não sabe por onde começar. E aí surge o sentimento de frustração: "Por que todo mundo consegue e eu não?"
Relacionamentos: quando a desconexão dói mais que o esquecimento
O impacto do TDAH vai além do ambiente profissional ou acadêmico. Ele atravessa a intimidade. Muitos adultos com TDAH relatam dificuldade de manter relacionamentos estáveis. Não porque não amam ou não se importam, mas porque têm dificuldade em sustentar presença emocional, lembrar detalhes importantes ou regular suas reações.
Barkley descreve que o TDAH prejudica “a capacidade de gerenciar o tempo e priorizar comportamentos, o que afeta diretamente a convivência em parcerias íntimas” (Barkley, 2010).
Isso significa que, muitas vezes, o outro sente-se deixado de lado, enquanto a pessoa com TDAH lida com a culpa e a vergonha por mais uma vez “não ter conseguido”. A hiperfocalização também pode aparecer — aquele momento em que a pessoa com TDAH mergulha tanto em algo (um hobby, uma ideia, uma tarefa) que esquece o mundo ao redor, inclusive quem está ao lado.
E a culpa, onde entra nisso tudo?
Ela entra pelas frestas. Porque quem vive com TDAH na vida adulta frequentemente carrega o estigma da irresponsabilidade, da “mente bagunçada”, da pessoa que precisa “se esforçar mais”. Como se não estivesse tentando o tempo todo.
Mas esforço não é o problema. O problema é uma mente que opera com um filtro diferente do mundo. O tempo interno do TDAH não é linear, e o cérebro precisa de estímulos diferentes para se organizar. É como tentar encaixar uma peça redonda em um buraco quadrado — e se culpar por isso.
Sim, existe um caminho possível
A boa notícia é que há formas de aliviar essa sensação de caos. Psicoterapia, especialmente quando integra abordagens que consideram o funcionamento singular da mente, é uma das ferramentas mais potentes. A psicoeducação também é fundamental para que o adulto compreenda seu padrão neurológico e aprenda a criar estratégias que respeitem seu ritmo.
Aqui, no meu trabalho como terapeuta integrativa de base junguiana, acolho justamente esse lugar de conflito: entre o mundo que exige demais e o sujeito que sente demais. A escuta, o simbolismo, a compreensão da alma, são caminhos que ajudam a aliviar o peso de viver tentando se encaixar.
Você não está quebrado(a). Você só pensa diferente!
Por Danielle Cassimiro, 13/04/2025
Psicanalista Integrativa de base junguiana | Psicoterapia online
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Parabéns pelo artigo!